Em 30 anos, hospital filantrópico sai do vermelho, cresce 100 vezes em tamanho e adquire sustentabilidade financeira
06 de Julho de 2018 às 06:00
“Quando cheguei à presidência do hospital, queria não apenas fechá-lo, como por fogo nele.” A frase, em tom de desabafo, dá uma ideia da situação dramática que Henrique Prata encontrou ao assumir, em 1988, o Hospital de Câncer de Barretos, fundado por seus pais duas décadas antes. Trinta anos se passaram e aquele cenário de caos se tornou apenas uma lembrança amarga.

Hoje, a instituição filantrópica, que ampliou em 100 vezes sua estrutura física, navega nas calmas águas da sustentabilidade financeira. Mas até atingir esse ponto, teve de enfrentar muitas tormentas.

“No início, havia 60 colaboradores no hospital. As dívidas eram tão grandes que a instituição chegou a falir e ficou seis meses sem pagar nada. Vendi meu patrimônio para ajudar”, lembra Prata.

Diante de tamanha crise e da necessidade premente de levantar recursos, a instituição decidiu apelar para uma rifa. E deu certo — muito mesmo!

“Vendemos 20 mil números de uma só vez”, conta Prata, que percebeu, então, de onde tirar forças para reerguer o lugar: da própria sociedade local. Mas era preciso adotar uma estratégia mais proativa.

“Fomos procurar o dinheiro com as pessoas. Vimos que ele existia em abundância, mas tínhamos de pedir”, afirma.

Os resultados apareceram com rapidez. A conta do déficit logo foi paga, e começaram a sobrar recursos para ampliar a estrutura. Em 1989, com a ajuda de fazendeiros de Barretos e de cidades próximas, o Hospital de Câncer iniciou a construção de um novo pavilhão, entregue em 1991.

Captação profissional

Quando chegou à instituição, o hospital ocupava uma área de 2 mil m². Em 30 anos, essa estrutura cresceu 100 vezes, e hoje se espalha por 200 mil m².

Hoje, ele ultrapassou as fronteiras de Barretos, e também está em outras cidades de São Paulo, como Fernandópolis e Jales, e até em outros estados, como Bahia e Roraima.

O paradoxo é que quanto mais cresce, mais demanda há por seus serviços. “Por mais que aumentemos nosso tamanho, a fila também sempre aumenta”, constata.

Aliado à alta procura, há outra questão delicada: a constante falta de recursos públicos. “Como atendemos pessoas gratuitamente, deveríamos receber 35% de nosso orçamento da União, 7,5% do estado e 2,5% do município. A primeira nos manda 12%, e os municípios não pagam nada. Temos de cobrir essa falta.”

A necessidade fez com que o hospital criasse e profissionalizasse a área de captação de recursos. “Atualmente, temos gente só para trabalhar com isso. Apenas na organização de eventos, contamos com 15 pessoas. No total, são cinco mil colaboradores.”

Muito amor envolvido

Em 2018, a instituição decidiu adotar o nome “Hospital de Amor”, mudança justificada pela frase que aparece em um banner em seu site oficial: “Vencer o câncer é mais fácil quando se está cercado de amor”.

E a troca de nome faz ainda mais sentido quando Prata descreve a transformação que sofreu após anos à frente do hospital. “Uso o mesmo princípio do meu pai: tratar as pessoas por amor. Eu entrei para fechar o lugar, mas me converti e tive amor. É diferente de fazer por obrigação.”


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