Avaliação e monitoramento na Captação de Recursos: uma introdução
29 de Agosto de 2016 às 10:50
Qual é a primeira ideia que vem à sua mente quando você ouve falar em avaliação e monitoramento? Sempre faço esta pergunta no início das palestras e cursos que ministro sobre este tema e a resposta mais frequente é: “Há algo errado com este projeto. Precisamos avaliá-lo”. Apesar da avaliação e do monitoramento contribuírem para identificação de erros, eles vão muito além. Por isso, neste artigo gostaria de propor uma visão diferente sobre a avaliação e o monitoramento: de que são ferramentas indispensáveis à gestão e à captação de recursos.

Compreender o que pode estar errado é somente um dos aspectos da gestão. As melhores práticas de gestão de uma organização, programa ou projeto nos levam, ao mesmo tempo, a buscar fazer o certo, tentar ser eficazes, eficientes e procurar gerar impacto.

A eficácia preocupa-se com os fins, com a capacidade de atingir os resultados pretendidos. A busca pela eficácia nos faz tentar distinguir quais atividades podem nos levar mais próximos de nossos objetivos. Esta distinção só ocorre a partir do monitoramento constante de nossas atividades e da avaliação do desempenho destas atividades diante dos objetivos almejados.

Adotar as atividades e estratégias de captação de recursos mais capazes de nos levar a atingir nossos objetivos, aquelas mais eficazes, pode representar a diferença entre o sucesso e o fracasso de nossa captação.

A busca pela eficiência diz respeito à utilização racional dos recursos, à otimização dos recursos disponíveis. Nos leva a tentar descobrir qual é a melhor maneira de executar uma tarefa, visando responder à pergunta: “O que podemos melhorar em nosso processo, sem aumentar gastos ou até mesmo reduzindo-os?” A melhoria dos processos só é possível quando monitoramos rotineiramente nossas atividades e avaliamos a sua contribuição para o atingimento de nossos resultados versus os recursos dispendidos em seu desenvolvimento.

No caso da captação de recursos, conhecendo as atividades ou estratégias mais capazes de transformar os recursos disponíveis nos resultados pretendidos, podemos passar a focar naquelas que apresentam o melhor custo X benefício, aquelas mais eficientes.

O impacto se refere às mudanças estruturais, à transformação de realidades decorrente do conjunto de atividades que desenvolvemos. Muito relacionado à missão e visão de nossas organizações, dificilmente pensamos no impacto que pode ser gerado diretamente pela captação de recursos. Por outro lado, se nossas atividades e estratégias estão promovendo efeitos profundos e duradouros, podemos e devemos considerar o impacto da captação de recursos.

Cito como exemplo um projeto que implantamos no IDIS envolvendo a capacitação de Santas Casas e Hospitais Filantrópicos no Estado de São Paulo para a captação de recursos. Em um diagnóstico preliminar identificamos que esses hospitais, cuja criação e desenvolvimento sempre estiveram muito ligados ao apoio das comunidades locais, haviam se distanciado delas, principalmente após a criação do SUS – Sistema Único de Saúde.

Porém, atrasos nos repasses do Governo Federal e o aumento dos custos do atendimento à saúde fizeram com que os recursos do sistema público passassem a ser insuficientes para atender às necessidades dos hospitais beneficentes. Como resultado, várias entidades foram obrigadas a fechar suas portas, prejudicando o atendimento à população.

A estratégia de atuação que vislumbramos foi a de fortalecer as Santas Casas e Hospitais Filantrópicos em sua capacidade de mobilização comunitária, permitindo que os hospitais voltassem às suas origens, se reaproximando das comunidades locais e tornando a contar com sua colaboração para que esses hospitais pudessem continuar existindo.

Assim, a captação de recursos foi utilizada como o meio principal para a mobilização das comunidades em torno da defesa destas organizações de saúde, que é o efeito profundo e duradouro – o impacto – pretendido com a captação de recursos.

Convivemos diariamente com a escassez de recursos (financeiros, humanos, etc.) e não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar os recursos disponíveis. A avaliação e o monitoramento existem exatamente para que sejamos capazes de gerenciar estes recursos de forma eficiente, eficaz e gerando o maior impacto possível. Por este motivo, a avaliação e o monitoramento devem fazer parte do dia-a-dia de toda organização, dos programas, planos e projetos que ela desenvolve. Devem estar completamente integrados, dentro de um processo contínuo de definição, obtenção e fornecimento de informações cruciais à tomada de decisão.
 

Andrea Hanai é gerente de projetos do IDIS desde junho de 2014. Anteriormente a esta posição, sempre trabalhou na construção e desenvolvimento de relacionamentos, tendo sido Relationship Manager na área de Corporate Banking do Banco Sudameris e do Banco ABN AMRO Real e Corporate & Investment Banker na área de Global Banking & Markets do Banco Santander Brasil. É formada em Economia pela FEA-USP, com MBA em Finanças pelo Insper e Mestrado Internacional em Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social pela Escuela de Organización Industrial (EOI) de Madri, onde se especializou em parcerias intersetoriais para o desenvolvimento.


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