Organização transforma ciclistas em captadores e tem retorno de 4000% sobre valor investido em campanha
31 de Outubro de 2018 às 06:00
Se a captação de recursos é um desafio diário, por que não pedir ajuda a um grupo perito em superar limites? Pois foi exatamente isso o que fez a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) ao transformar 15 atletas amadores de alto desempenho em captadores para sua causa. O resultado? Mais de R$ 80 mil arrecadados após investir apenas R$ 2 mil, com um índice ROI (Return On Investment, ou retorno sobre valor aplicado) de mais de 4000%.

O grupo se preparava para participar da Haute Route, a mais famosa competição amadora de ciclismo do mundo, na qual os competidores pedalam mais de mil quilômetros em cenários montanhosos ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, uma colaboradora da Abrale teve contato com uma novidade que vinha de fora.

“A Dina Steagall tinha visto nos Estados Unidos um modelo semelhante de envolver atletas com causas, o Cycle for the cause. Era uma ideia já difundida lá fora, mas pouco usada no Brasil”, conta Felipe Antunes, da área de relacionamento com doador da Abrale.

Dina era próxima do ciclista Leandro Hernandez, participante do grupo e também colaborador de longa data da associação, que ficou com o papel de mobilizar os atletas.

Assim surgia a campanha I beat it. “Convidamos os ciclistas para visitarem a Abrale e apresentamos o projeto e a causa. A ideia é que, além das metas de treinamento para a prova, eles também tivessem um objetivo de arrecadação. Estipulamos R$ 15 mil para cada um dos 15 participantes, recurso que eles mobilizariam por meio de seus contatos.”

A Abrale criou uma página personalizada para cada atleta fazer sua campanha, inclusive, com área de doação customizada. “Não realizamos divulgação, já que eram eles que tinham o papel de falar com suas respectivas redes”, afirma Antunes.

Nos bastidores, porém, a associação ajudava a articular a iniciativa. “Criamos um grupo de WhatsApp com todos os participantes. Era um espaço para tirar dúvidas. Por exemplo, um deles queria saber como receber doações internacionais. Também usávamos para enviar para eles materiais que ajudassem nas campanhas. O grupo acabou virando um espaço descontraído, já que eram todos amigos”, diz Pedro Ferreira, estagiário em investimento social da Abrale e responsável por essa comunicação.

Disputa salutar

Para manter os ciclistas motivados, bastou invocar o mesmo instinto que os faria pedalar mais de mil quilômetros em agosto de 2018: o de competição. Foi criado um ranking — atualizado constantemente — para que os participantes soubessem como estava a captação de cada um.

Apesar de os competidores não terem conseguido alcançar a meta de R$ 225 mil, a campanha foi considerada um sucesso diante do baixo investimento, de apenas R$ 2 mil. Ao todo, R$ 83.650 foram mobilizados, recurso que está sendo investido em um projeto de humanização do tratamento oncológico de crianças, beneficiando 278 delas.

Antunes destaca: “Tivemos um retorno de mais de 4000% sobre o valor investido em relação ao que foi captado. O resultado foi surpreendente”.

Não à toa, a Abrale já estuda adotar o modelo com outros grupos de esportistas amadores. “Queremos fazer uma arrecadação nesses mesmos moldes com um grupo de nadadores e, talvez, até manter mais de uma campanha por vez”, adianta Antunes.

E a associação parece não ter sido a única beneficiada pela iniciativa. “A Camila Gianella, que ficou em segundo no nosso ranking de captação, disse que lembrava da mãe, que havia falecido, e das pessoas que tinha ajudado quando, durante a competição, pensava em diminuir o ritmo”, revela Felipe Antunes.

Ah, Camila ganhou a Haute Route.


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